As ruas desertas à noite são uma imagem que dificilmente se encaixa na ideia predominante do Pelourinho fervilhante do período de 1983 a 1991. Nessa época, a Festa da Bênção alavancava a ida de baianos e turistas ao Centro Histórico de Salvador e fazia parte das atrações que, com os shows de artistas locais e nacionais, davam à área a fama de espaço com grande fluxo turístico.
“As coisas mudaram demais. E para pior”. A afirmação é de Clarindo Silva, dono da famosa Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, e um dos líderes do movimento de revitalização do Pelourinho desde a década de 70. Da varanda do seu restaurante, ele observa a decadência.
Desagrado - “Os turistas vêm e não retornam”, diz, contando as críticas que ouve dos visitantes, principalmente europeus. Logo aparece a oportunidade de mostrar, na prática, como isso acontece: cedendo à insistência de um pedinte, seu cliente dá uma rodela de tomate do seu prato, de forma a livrar-se do incômodo. “Isso acontece o tempo todo. Ninguém mais quer vir aqui”, diz Clarindo.
“Os comerciantes estão passando por sérias dificuldades e muitos já foram embora”, conta. “Houve época que reunimos até 50 mil pessoas aqui. Hoje, a Festa da Bênção parece uma grande favela”, relata, lembrando o tempo em que o Centro Histórico, fortalecendo o movimento negro, recebia visitas ilustres, como Kofi Annan e Desmond Tutu.
“O Centro Histórico é um lugar onde o baiano vai só para levar turistas. Mas nós não somos Hollywood. Precisamos de gente vivendo aqui, indo na padaria, na farmácia, visitando o vizinho. Isso movimenta o comércio”, opina Clarindo, acrescentando que na Rua das Laranjeiras, antigo point gastronômico, já não estão mais restaurantes como o Firmino, Matusalém, La Lupa e tantos outros.
Equívoco - O presidente do Olodum, João Jorge, vê no descaso com a identidade cultural do Pelourinho a raiz dos problemas. “O visitante não vem ver casas portuguesas, que poderia ver em Lisboa, em Macau ou Angola. Quer conhecer nossa cultura híbrida, mistura do português e do africano”, acrescenta.
Para ele, o poder público erra. “O Terreiro não tem mais acarajé, não tem trançadeiras de cabelo afro, não tem função. Dizem que até os pombos incomodam o turista. Isso é a vida do lugar”, diz João Jorge, que aponta soluções.
“Estímulo às manifestações populares e religiosas, ao reggae, aos blocos afro, transformar imóveis e praças em espaços culturais, de esporte e lazer, diversificar atividades comerciais, acessibilidade, limpeza, conservação e segurança”, enumera.
“Antes, o soteropolitano vinha para a Bênção, tomava o seu cravinho e circulava nos bares. Não adianta trazer para cá o que não tem química com isso”, aponta. “Exigem do Pelourinho o que não existe em nenhum outro bairro. Nenhum é auto-sustentável. O Pelourinho precisa ser vendido para o baiano”.
“As coisas mudaram demais. E para pior”. A afirmação é de Clarindo Silva, dono da famosa Cantina da Lua, no Terreiro de Jesus, e um dos líderes do movimento de revitalização do Pelourinho desde a década de 70. Da varanda do seu restaurante, ele observa a decadência.
Desagrado - “Os turistas vêm e não retornam”, diz, contando as críticas que ouve dos visitantes, principalmente europeus. Logo aparece a oportunidade de mostrar, na prática, como isso acontece: cedendo à insistência de um pedinte, seu cliente dá uma rodela de tomate do seu prato, de forma a livrar-se do incômodo. “Isso acontece o tempo todo. Ninguém mais quer vir aqui”, diz Clarindo.
“Os comerciantes estão passando por sérias dificuldades e muitos já foram embora”, conta. “Houve época que reunimos até 50 mil pessoas aqui. Hoje, a Festa da Bênção parece uma grande favela”, relata, lembrando o tempo em que o Centro Histórico, fortalecendo o movimento negro, recebia visitas ilustres, como Kofi Annan e Desmond Tutu.
“O Centro Histórico é um lugar onde o baiano vai só para levar turistas. Mas nós não somos Hollywood. Precisamos de gente vivendo aqui, indo na padaria, na farmácia, visitando o vizinho. Isso movimenta o comércio”, opina Clarindo, acrescentando que na Rua das Laranjeiras, antigo point gastronômico, já não estão mais restaurantes como o Firmino, Matusalém, La Lupa e tantos outros.
Equívoco - O presidente do Olodum, João Jorge, vê no descaso com a identidade cultural do Pelourinho a raiz dos problemas. “O visitante não vem ver casas portuguesas, que poderia ver em Lisboa, em Macau ou Angola. Quer conhecer nossa cultura híbrida, mistura do português e do africano”, acrescenta.
Para ele, o poder público erra. “O Terreiro não tem mais acarajé, não tem trançadeiras de cabelo afro, não tem função. Dizem que até os pombos incomodam o turista. Isso é a vida do lugar”, diz João Jorge, que aponta soluções.
“Estímulo às manifestações populares e religiosas, ao reggae, aos blocos afro, transformar imóveis e praças em espaços culturais, de esporte e lazer, diversificar atividades comerciais, acessibilidade, limpeza, conservação e segurança”, enumera.
“Antes, o soteropolitano vinha para a Bênção, tomava o seu cravinho e circulava nos bares. Não adianta trazer para cá o que não tem química com isso”, aponta. “Exigem do Pelourinho o que não existe em nenhum outro bairro. Nenhum é auto-sustentável. O Pelourinho precisa ser vendido para o baiano”.
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